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quinta-feira, 16 de setembro de 2010

O cavalo amigo do carrapato


Ali, do alto da montanha visualiza a cidade. Na manhã há alvoroço da criançada a brincar no Ginásio - é hora do intervalo. Vê o novo prédio de cores fortes do posto de sáude. Mais distante a Igreja Matriz de Guararema e a copa das árvores enfrente a ela. Na praça de cima vê também a copa das arvores, não consegue ver o coreto. Sabe que na praça de cima há um, já o avistou ao passar por ali, montado no dorso do cavalo Pingo. A sua direita observa o silencio do cemitério cercado por muros e por sobre estes, fios de arames a brilhar sobre o raio do sol - os fios ali instalados são recentes.

Lá, em outra rua, distante do cemitério observa o cavalo Pingo a caminhar a esmo pela cidade. O animal está encoberto por um resto de neblina. Eles se conhecem. Pingo é o pangaré mais feliz do mundo. Seu segredo: não ter cabrestos. Foi graças a ele e a empregada Magda que conseguiu experimentar o sangue azul - o rico, as vezes, julga possuir sangue azul.

Um dia, pegou carona no dorso do cavalo Pingo e pediu para levá-lo até enfrente a uma casa de gente rica. Ele queria um sangue com sabor diferente, sangue azul. Após perambular encontraram uma magnífica casa, com um extenso gramado na frente. Pare - disse ao cavalo - quero ficar aqui. Neste lugar dever ter alguém com sangue azul.

Desceu do cavalo, foi até ao gramado caminhando em direção à janela, por onde havia uma pequena abertura. Ao aproximar da janela, uma sombra o cobriu. Olhou para cima. La estava a empregada Magda com a vassoura já pronto para esmagá-lo.

Calma moça! – berrrou - não me mate. Eu estou aqui apenas para fazer o que a sua patroa há muito anda fazendo com você. Um passarinho me contou que você trabalha demais: tem de passar roupa, cozinhar, cuidar das crianças, vesti-las para a escola, arrumar suas mochilas, lavar quintal, lavar os banheiros – são cinco!, passar óleo nas janelas, trocar a cada quinze dias os forros dos armários. Sei também que pediu aumento e lhe foi negado. Soube que pediu pra ser pago o seu fundo de garantia e também foi negado. É verdade ou não é? Então por que você quer matar este pobre carrapato? Deixa eu fazer com ela o que ela há muito faz com você.

A moça, parou à pensar - a vassoura a esta altura já estava descansando no chão - ela desistira de matá-lo. Então perguntou?

O que minha patroa há muito anda fazendo comigo? Vamos me conte! Estou curiosa.

Há muito ela anda a sugar você. Você não notou ainda? Ela é uma vampira. Não bebe o seu sangue, mas sim a sua esperança de uma vida mais digna.

A empregada analisou as palavras do carrapato. Respirou fundo. Tá bem, suba aqui no meu dedo. E o carregou para dentro. Pensamentos de vingança agora invadiram a mente da moça...

Jorge Pereira de Souza

“Tudo que é preciso para o triunfo do mal, é que as pessoas de bem nada façam.” (Edmund Burke)

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