Já nos primeiros andares, vieram Covas, Darcy.
Mais
um ou outro andar, Lula, Dirceu, Suplicy.
Outros
mais, Marina, Heloísa.
De
repente, o elevador parou entre dois andares.
Alguém
mexeu, indevidamente, no painel.
Parece
que alguns resolveram descer e fizeram mau uso do botão de
emergência.
O
Covas, o Darcy, o Ulysses, o Tancredo, o Teotônio já
haviam chegado a seus destinos.
Sentimos,
então, uma sensação de insegurança e de falta de referências.
Apesar
dos brados da Heloísa, parecia que nada poderia impedir a nossa queda livre.
A
cada andar, uma outra voz, agora de dentro para fora, anunciava, num ritmo
rápido e sequencial:
"PC",
"Orçamento", "Banestado", "Mensalão",
"Sanguessugas", "Navalha", "Xeque-Mate".
Alguns
nomes, eu nem consegui decifrar, tamanha a velocidade da descida.
E
o elevador não parava.
Nenhuma
porta se abria.
Haveria
o térreo, de onde poderíamos, de novo, ganhar as ruas.
É
que imaginávamos que seria o fundo do poço do elevador da política.
Qual
o quê, não sabíamos que o nosso edifício tinha, ainda, tantos, e tão profundos,
subsolos.
Daí,
a sensação, cada vez mais contundente, de que o baque seria ainda maior.
Quantos
seriam os subsolos?
Até
que profundezas suportaríamos nessa queda livre?
Mais
uma vez de repente, o elevador parou, subitamente.
Uma
fresta, uma sala, uma discussão acalorada.
Troca
de insultos.
Uma
reunião da Comissão de Ética da Torre Principal do Edifício.
O
Síndico teria pago suas contas pessoais com o dinheiro do Condomínio, através
do funcionário do lobby de um outro edifício.
E,
por isso, teria, também, deixado de pagar pelos serviços de manutenção do
elevador.
Mais
do que isso, o zelador também não havia recebido o seu sagrado salário, para o
pão, o leite, a saúde e a educação da família.
Idem
o segurança.
Mas,
havia algo estranho naquela reunião:
os
representantes dos condôminos, talvez por medo de outros sustos semelhantes, em
outros solavancos do elevador, defendiam, solenemente, o Síndico.
Ninguém
estava interessado em avaliar a veracidade das suas informações.
Nem
mesmo as contas do Condomínio.
Queriam
imputar culpa ao zelador e ao segurança.
Ou,
quem sabe, teria o tal Síndico informações comprometedoras, gravadas nos
corredores soturnos do edifício, a provocar tamanha ânsia solidária?
Não
se sabe, mas, tudo indica, isso jamais será investigado, enquanto vigorar a
atual Convenção de Condomínio.
Há
que se rever, portanto, essa Convenção.
Há
que se consertar esse elevador.
Há
que se escolher um novo ascensorista.
Há
que se eleger um novo síndico.
Há
que se alcançar o andar da ética.
A
voz das ruas tem que ecoar, mais alto, nos corredores deste edifício.
A
voz de dentro, parece, insiste em continuar violando os painéis de controle.
Até
que não haja, mais, subsolos.
E,
aí, o tal baque poderá ser irreversível.
Não
haverá salas de comissões de ética.
Porque
não haverá, mais, ética.
Quem
sabe, nem mesmo, edifício.
Senador
Pedro Simon (PMDB-RS)
“Tudo que é preciso para o triunfo do mal, é que as pessoas de bem
nada façam." (Edmund Burke)
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