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sexta-feira, 21 de março de 2014

Aversão à política

Uma pesquisa realizada pelo Datafolha no ano passado mostra que existe um desencantamento generalizado com os partidos políticos, disseminado em toda a juventude brasileira, rica ou pobre - que tem acabado por provocar nos jovens um descrédito na democracia, aversão à política e até tolerância com a desonestidade, tamanha a sensação de impunidade no que se refere a corrupção. ...Na visão dos jovens brasileiros, a desonestidade, segundo o Datafolha, está em primeiro lugar, empatada com a violência, na lista dos maiores problemas brasileiros. O desemprego e a miséria estão bem longe.

Diante de tantas notícias trágicas sobre desvios que se acumularam nos últimos meses, essa pesquisa se torna especialmente valiosa. Num só saco temos os abusos em alguns Ministérios do governo federal, os desvios no Metrô e na CPTM, a "máfia do ISS" que já foi esquecida e o recente relaxamento nas penas dos "mensaleiros". Políticos foram absolvidos, mesmo sendo flagrados com a mão na botija e tantos outros.

Todas essas notícias, recorrentes há tantos anos, ajudam a explicar a mais trágica das respostas dos jovens ao Datafolha: 74% não têm "nenhum" interesse em participar dos partidos. Outros 18% disseram que teriam "pouco" interesse. Um relatório da organização Transparência Internacional sobre percepção de corrupção no país também apontou que 4 de cada 5 brasileiros acreditam que os partidos políticos são corruptos.

Pergunta óbvia: como poderemos ter uma democracia representativa se os jovens do país não se interessam pelos partidos? Se a percepção dos jovens, como demonstra a pesquisa, é a de que a atividade política está atolada irremediavelmente na lama, quem se interessaria em ser vereador, deputado ou senador? Talvez aqueles interessados em tirar proveito da vida pública?

Como corrigir esta distorção se o relatório ainda mostra que apenas 68% dos brasileiros estariam dispostos a denunciar a corrupção, abaixo da média de 83% registrada na América Latina? Dentro deste total (68%), 44% têm medo de represália e 42% acham que denunciar corrupção não leva a nada. Resultados absolutamente desesperançosos e que refletem como entidades como a Polícia e o Judiciário não tem credibilidade no Brasil.

A política me acompanha desde os tempos escolares no Grêmio Estudantil e são incontáveis a quantidade de “caras e bocas” pela qual fui "punido" por desejar seguir carreira no assunto. Na faculdade, por exemplo, enquanto muitos se preparavam orgulhosamente para serem engenheiros bem sucedidos financeiramente, eu procurava respostas nos livros acadêmicos para diminuir a desigualdade social. Era o melhor aluno da turma em cálculo, física e resistência dos materiais, mas dividia o tempo de estudos mobilizando os estudantes para participação política e me dedicando a projetos sociais, uma contradição!

Embora não faltassem vagas para engenheiros no mercado, fiz opção por uma carreira profissional no serviço público, cujo ingresso se deu por intermédio de concurso público. Embora tratando-se de uma seara completamente povoada pela desesperança, aceitei minha sina. Por teimosia, vocação e desprendimento financeiro, tenho superado os preconceitos e estou nesta trincheira de servidor público e político, talvez por compreender que são carreiras intimamente ligadas pela mesma nobre raiz, servir as pessoas.

Confesso que quase sempre bate o desânimo, afinal, também sou estimulado a entrar num círculo vicioso em que os honestos não devem optar por política porque é um campo dominado por ladrões. Mas, ao mesmo tempo, sou motivado a continuar em frente, pois, em política não existe espaço vazio, se os sérios não ocuparem os espaços, os picaretas ampliarão suas frentes. Mesmo que você não pense neles, eles estarão sempre pensando em você. Não lido bem com a passividade, se eles pensam em mim, vou me antecipar e pensar neles primeiro.

Sei que estamos metidos num mato-sem-cachorro que talvez apenas um segmento por enquanto pode dar o norte para mudança: os próprios políticos, os sérios políticos, claro. Mas, por enquanto, pouca gente, especialmente os jovens, parecem dispostos a ouvi-los. Alguns tem sido até tentados a cair no conto de que só os militares vão conseguir colocar a casa em ordem, pois pouco conhecem sobre a ditadura contada a partir do viés de quem estava do lado mais fraco.

Então, o desafio que se tem é que enquanto perdurar este deserto na política brasileira, a parte da história feita pelos políticos sérios, famosos ou anônimos precisa ser contada. O legado de homens e mulheres valorosos que se dedicaram ao seu povo com desprendimento e generosidade não pode cair no ostracismo, a fim de que os mais jovens não desacreditem da democracia e da política, pois o que foi conquistado até aqui com todas as limitações e contradições teve sangue, suor e lágrimas de gente decente, de gente simples, de gente movida por um ideal e não por seus interesses. Por respeitar a memória deles, mesmo não estando a altura, peguei o mesmo bastão e estou seguindo em frente, mesmo com dores, mas com uma esperança imortal. Se não dá para mudar o começo, vai dar para mudar o final.
 

 
“Tudo que é preciso para o triunfo do mal, é que as pessoas de bem nada façam." (Edmund Burke) 

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